Livros Fundamentais das Grandes Tradições Espirituais até então Inéditos na Língua Portuguesa
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Qual o real significado do termo Teosofia?

Autor: Américo Sommerman – Revisto e adaptado para o Plog por Kleiton Fontes

Oriundo do grego, o termo Teosofia é a junção da palavra Theos (Deus) e Sophia (Sabedoria). Diferentemente da Filosofia, que busca a sabedoria articulando a Intuição intelectual (Nous) e a razão demonstrativa (Logos), a Teosofia só pode ser alcançada ou recebida por meio de uma experiência direta com o divino, em um desvelamento ou iniciação interior.

Portanto, embora a Teosofia e a Filosofia não sejam campos do conhecimento que se excluam mutuamente, pode-se dizer que onde a Filosofia para, a Teosofia continua. Pois ainda que a Filosofia, em sua acepção mais profunda, parta da Intuição intelectual (Nous), que de fato alcança as essências das coisas na sua realidade metafísica, a elaboração dos conteúdos metafísicos a partir dessa intuição fundamental do Todo será sempre apoiada na razão (logos). A Teosofia, por sua vez, parte de uma faculdade cognitiva ainda mais profunda do que a Intuição intelectual: a revelação, permitindo um desvelamento não apenas dos Primeiros princípios e das essências metafísicas das coisas, mas também seus desdobramentos em todos os diferentes níveis da realidade.

Patrick Paul detalha os diferentes níveis da realidade em sua primeira obra lançada pela Polar Editora. Confira aqui.

O que a Teosofia e a Filosofia têm de semelhante: 1º) ambas têm que ser precedidas por uma purificação do desejo, das emoções e do pensamento; 2º) ambas alcançam os fundamentos metafísicos ou as essências das coisas.

O que a Teosofia e a Filosofia têm de diferente: 1º) a Filosofia não parte da revelação; 2º) a Teosofia não utiliza a razão para deduzir o que alcançou pela revelação; 3º) a Filosofia é uma aproximação progressiva na direção da Sabedoria; 4º) a Teosofia é uma revelação imediata da Sabedoria.

O filósofo é aquele que realiza esse ato puro da mente, via Intuição intelectual, e que sonda o fundamento da realidade alcançada. O teósofo é aquele que recebe a revelação e compreende não apenas o fundamento da realidade, mas sua a origem, a natureza e a finalidade das coisas, bem como a complexidade dos diferentes níveis de realidade e das suas interações recíprocas.

Nesse sentido, o teósofo é similar ao que os neoplatônicos (Plotino, Proclo, Damáscio) chamavam de theológoi (teólogos): aqueles cujo Logos (a palavra ou ou discurso) é inspirado por Theos (por Deus e pelos deuses). Portanto, nesse sentido antigo (e não no sentido cristão) os teólogos são os autores inspirados que receberam os mitos e os transmitiram, como Hesíodo e Homero. Ainda no sentido antigo, original da palavra, como utilizado por Dionisio Pseudo-Areopagita em suas obras, são aqueles que, possuindo o conhecimento de Deus ou dos deuses, falaram ou escreveram a respeito dos mistérios divinos.

Conheça as principais obras do místico cristão Dionísio Pseudo-Areopagita através deste link.  

Na cultura da Grécia Antiga, outro termo que era análogo ao de teósofo e de theológoi era o termo “aedo”: poeta sagrado, tipo de poeta muito diferente do rapsodo, que surgiu posteriormente, e que criava suas obras a partir de sua própria razão e imaginação. O aedo, ao contrário, não criava nada, pois recebia as narrativas míticas por inspiração divina (logos alethés). Portanto, esse poeta sagrado que era o aedo também poderia ser chamado de poeta-profeta ou de poeta-vidente.

Entre os celtas, esse tipo de poeta-profeta era chamado de “vate”, ou seja, aquele que recebia e/ou explicava os mitos. Eles tinham características semelhantes às dos profetas hebreus do Antigo Testamento, às dos grandes xamãs das tradições ancestrais de todos os continentes, às dos sete Rishis da tradição hindu antiga, e à de alguns grandes lamas do budismo tibetano chamados de “tertons”. Segundo a tradição hindu, os Rishis foram visionários para os quais, mediante a abertura para estados mais elevados de consciência, os Vedas (as Escrituras Sagradas do hinduísmo) foram originalmente revelados há aproximadamente 3.000 anos. E as revelações recebidas por alguns grandes lamas tibetanos são chamadas de “terma” (tesouro escondido), e são encontradas metafisicamente por grandes lamas chamados de “tertons” (que em tibetano, significa “descobridor de tesouros escondidos”).

No contexto da tradição cristã, o maior de todos os teósofos é o grande visionário alemão Jacob Boëhme (século XVII). No contexto da tradição judaica, dois dentre os vários grandes nomes que poderíamos chamar de teósofos são o Rabi Shimon bar Iohai (século II), autor do Sêfer ha-Zohar (O Livro do Esplendor) e o Rabi Nehunia bem Hakana (século I), autor do Sêfer ha-Bahir (O Livro da Iluminação).

Dentre as grandes obras da Cabala encontra-se O Bahir e O Zohar. Confira mais detalhes dessas obras aqui.

Na tradição egípcia o teósofo por excelência é o venerado Hermes Trismegisto, a quem é atribuída a autoria do Corpus Hermeticum.

Algumas confusões a respeito do termo “teosofia” têm sido frequentes desde a criação de uma organização bastante conhecida que utilizou essa palavra no seu nome. Trata-se da Sociedade Teosófica, instituição criada no fim do século XIX e que se dedicou a trazer alguns conhecimentos que podemos chamar de teosóficos, oriundos das tradições orientais, principalmente textos e conhecimentos hindus e budistas. Vimos que o teósofo é aquele que recebe diretamente a revelação divina e a compartilha; portanto, os fundadores e os alunos dessa instituição, por não terem recebido diretamente a revelação dos mistérios divinos, mas serem apenas estudiosos dedicados dos conhecimentos de sábios ou teósofos orientais, devem ser chamados, mais apropriadamente, de teosofistas.

 

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About the author

Graduado em Filosofia, Mestre em Educação e Doutor em Difusão do Conhecimento, é o editor-chefe e o diretor da Polar Editorial. Estudioso das principais Tradições Espirituais ocidentais há 35 anos e do esoterismo nelas contido.

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