Livros Fundamentais das Grandes Tradições Espirituais até então Inéditos na Língua Portuguesa
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Esoterismo: Qual o real significado desse termo?

Autor: Américo Sommerman – Revisto e adaptado para o Plog por Kleiton Fontes

O substantivo “esoterismo” é uma palavra moderna que provém da distinção entre dois adjetivos muito mais antigos, sendo eles exotérikos (exotérico) e ésotérikos (esotérico), que surgiram pela primeira vez na Grécia antiga para diferenciar os aspectos exteriores (exotéricos) e interiores (esotéricos) de um mesmo ensinamento filosófico, o esotérico sendo oferecido apenas depois de um certo desenvolvimento do aluno. Essa distinção entre o ensinamento exotérico e o esotérico também ocorria nas primeiras escolas cristãs. Nos escritos e registros históricos de um dos primeiros pais da Igreja, Clemente de Alexandria (150- 217 d.C.), sobre a pedagogia e a gnose cristãs, ele diz que a preparação dos alunos era feita “por graus para receberem a doutrina secreta dos Apóstolos” (Laurant, L’ésoterisme, Paris, Cerf, 1993, p. 21). Essa mesma distinção também estava presente nas ordens de cavalaria cristãs e nas organizações de ofício da Idade Média. Os diferentes níveis de interpretação das Escrituras Sagradas ‒ do mais externo (exotérico) ao mais interno (esotérico) ‒ também eram clássicos desde Orígenes de Alexandria (185-254 d.C) até Hugo de São Vítor (1096-1141 d.C), sendo eles: o sentido literal, o moral, o alegórico e o espiritual ou anagógico (que conduz a alma à revelação interior), mas este último (o mais “esotérico” de todos) foi se perdendo a partir do século XIII.

Segundo pesquisadores contemporâneos importantes desse campo do conhecimento como Henry Corbin e René Guénon, essa ruptura entre o ensinamento destinado a todos (exotérico) e o ensinamento destinado a poucos (esotérico) teria ocorrido no cristianismo na dissolução da Ordem dos Templários, uma das principais organizações iniciáticas da cavalaria cristã, fundada em 1118 por São Bernardo de Claraval. Isso ocorreu entre 1307, quando a Ordem foi fechada, e 1314, quando o último Grão-Mestre da ordem, Jacques de Molay, foi levado à fogueira pela Inquisição.

Como muitas ordens de cavalaria ‒ em todos os tempos, lugares e culturas ‒, esta Ordem Militar cristã era de natureza iniciática e sua dissolução representou para o cristianismo uma primeira grande ruptura entre fé e conhecimento revelado (Gnose), conhecimento esse de natureza esotérica e universal que era transmitido para os membros da nobreza no interior dessas ordens de cavalaria, assim como era transmitido para todos os artesãos que faziam parte das mais diversas Corporações de Ofício (sendo eles pedreiros, marceneiros, ferreiros, vidraceiros, perfumistas, alfaiates, sapateiros, açougueiros, alquimistas e etc.) e para certos membros do sacerdócio em algumas escolas e ordens monásticas.

Conheça a nobreza da Tradição da Cavalaria lendo a obra Iniciação dos Cavaleiros e dos Reis na Cristandade Medieval de Gerard de Sorval.

A segunda grande e trágica ruptura entre ensinamento exotérico e esotérico no Ocidente europeu ocorreu com o triunfo do Iluminismo no fim do século XVIII, quando este, ao tomar o poder político, decretou o fechamento das Corporações de Ofício. Felizmente, algumas dessas Ordens de Ofício (como a Ordem dos Compagnnons Talhadores de Pedra e outras) continuam existindo e de maneira ininterrupta desde a Idade Média, especialmente na França e na Alemanha. No caso das fraternidades espagíricas (alquímicas), elas continuam bastante vivas e presentes especialmente na Alemanha, mas também na França, na Itália, na Espanha e em outros países europeus.

Essa divisão e relação entre ensinamentos exotéricos (destinados a todos) e esotéricos (destinados apenas àqueles que “tem fome e sede de justiça” ‒ Evangelho de Mateus 5: 6) pode ser encontrada em todas as culturas tradicionais, ou seja, em todas as culturas nas quais a Sabedoria Perene continua viva. Infelizmente, como vimos, ela foi quase que totalmente “assassinada” na cultura do Ocidente moderno e contemporâneo, mas permanece viva na tradição judaica, na tradição islâmica, na tradição budista, na tradição taoista e em todas as tradições ancestrais das Américas, da África, da Ásia e da Oceania. Na tradição judaica, esse ensinamento esotérico é chamado de cabala ou Cabalá; na tradição islâmica, de sufismo; na tradição budista, são os ensinamentos do Vajaiana (ou Veículo da Carruagem de Diamante) e do Tantraiana; na tradição taoista, são os ensinamentos da alquimia taoista. Em todas essas grandes tradições espirituais, para poder receber esses ensinamentos esotéricos é preciso antes seguir todos os preceitos fundamentais daquela tradição, exercitar todas as virtudes indicadas por ela e conhecer bem a letra de seus Textos Sagrados.

Visando transmitir com maior clareza o termo Anagogia, sendo o quarto nível de entendimento e interpretação das Escrituras Sagradas, trazemos um pouco mais do seu conceito.

A palavra “anagogia” vem do grego anagogikos, que significa elevação. Platão utilizou esta expressão para remeter as coisas à sua origem, ao topos uranos ou lugar celestial, que é o Mundo das Ideias ou Mundo Divino (o Mundo de Atsilut na cabala), onde estão as essências de todas as coisas. Como vimos, quem estabeleceu a conotação desta palavra no cristianismo foi Clemente de Alexandria (século III), na sua obra Stromata, onde ele diz que se trata de uma interpretação das Escrituras Sagradas que vai além da leitura literal e adentra em seu sentido superior, de modo a conduzir o intérprete à contemplação do divino. Pode-se dizer que é um acesso à Sabedoria Divina (à Teosofia), que possibilita um desvelamento e a vivência de uma iniciação interior.

Saiba mais sobre o Mundo das Ideias ou Mundo Divino lendo as obras de Plotino, Proclo e Damáscio, fiéis depositários da Tradição Neoplatônica.

O próprio Dante Alighieri trabalhou com esses quatro níveis da hermenêutica, o que pode ser constatado em sua obra Convivio (ou Banquete), na qual ele afirma haver quatro níveis de interpretação dos textos sagrados: 1º o sentido literal, que “é aquele que não vai além da letra das palavras que exprimem imagens, como são as fábulas dos poetas”; 2º o sentido alegórico, que “é aquele que se esconde sob o manto dessas fábulas, configurando assim uma verdade oculta sob uma bela mentira”; 3º o sentido moral, que “é aquele que os leitores devem procurar colher com profunda atenção nas Escrituras, para sua utilidade e a de seus alunos”; 4º o sentido anagógico, “isto é, o supra-sentido, e este ocorre quando se expõe espiritualmente um escrito, o qual, pelas coisas significadas, significa as coisas sublimes da glória eterna.”

Esses quatro sentidos principais de interpretação das Escrituras Sagradas são os mesmos que aqueles que a tradição judaica chama de Peshat: o sentido literal, simples e histórico; Remez: o sentido alusivo e alegórico; Darash: o sentido simbólico; e Sod: associado à realidade de uma compreensão “secreta”, posto que o nível mais interior ou esotérico do Sod (anagógico) como já foi dito acima, corresponde a uma experiência ou revelação interior.

 

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About the author

Graduado em Filosofia, Mestre em Educação e Doutor em Difusão do Conhecimento, é o editor-chefe e o diretor da Polar Editorial. Estudioso das principais Tradições Espirituais ocidentais há 35 anos e do esoterismo nelas contido.

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