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Hermetismo: a Ciência Sagrada de Hermes

Autor: Américo Sommerman – Revisto e adaptado para o Plog por Kleiton Fontes

Assim como o platonismo é a corrente de pensamento que tem como sua referência cen­tral o que Platão ensinou, o hermetismo ou a tradição hermética é a corrente de pensa­mento que tem como modelo os ensinamentos atribuídos a Hermes Trismegisto.

Como é possível ver na introdução que fiz para o livro Corpus Hermeticum:

Hermes Trismegisto, a quem é atribuída a autoria de um conjunto de textos escritos no Egito em grego no entre os séculos II a. C. e III d. C., é a so­breposição do deus egípcio Thot ao seu equivalente grego Hermes, de modo que as funções principais deste último como mensageiro e intérprete dos deuses são englobadas pelas funções mais amplas de Thot: deus da sabedo­ria, deus articulador da Palavra Divina, primeiro-ministro do Deus Supremo, escriba do Deus Supremo, seu mensageiro e executor da justiça divina.

Desde o século III a. C., o nome de Hermes aparece no Egito seguido do título de “grande deus, muito grande e muito grande”, proveniente de designações egípcias de Thot. O qualificativo “Trismegisto” tornou-se canônico posteriormente, a partir da metade do século I d. C., signifi­cando “três vezes muito grande”: do grego tris (três vezes) e megistos (máximo, grandíssimo ou muito grande), pois era tido como o arqué­tipo ou modelo perfeito do maior dos reis, do maior dos sacerdotes e do maior dos sábios, e também como o possuidor do conhecimento pleno das três partes da sabedoria: dos fundamentos cosmogônicos e da aplicação da alquimia, da astrologia e da teurgia – o que lhe dava o domínio dos três mundos que são correspondentes a essas três ciências sagradas: o mundo físico, o mundo astral e o mundo espiritual. Ele per­sonificava a transmissão da sabedoria divina através dos tempos não somente aos homens, mas também aos próprios deuses, tendo sido ele que a transmitiu, por exemplo, a Osíris, a Hórus e a Ísis.

De fato, ele corresponde, por exemplo, à função do Chakravatin (“Aquele que faz a Roda Cósmica Girar”) no hinduísmo e no budismo: o Governante Universal ou Rei do Mundo: aquele que governa ética e benevolentemente todo o mundo. Essa função cós­mica de Rei do Mundo (presente também em outras tradições) manifesta-se em cada um dos diferentes níveis da realidade: desde o primeiro nível manifestado – aquele das essências e formas divinas –, passando pelo nível ou mundo dos anjos ou das divin­dades e pelo nível ou mundo das forças das estrelas e dos planetas até chegar ao nível ou mundo da matéria densa. Como veremos em seguida, esses diferentes mundos nos quais o Rei do Mundo se manifesta podem constituir uma das razões pela qual a tradi­ção egípcia e a tradição hermética relatam a existência de dois ou mais Thot-Hermes ao longo da história.

Como personificação da transmissão da sabedoria divina através dos tempos aos seres humanos “ele é equivalente à função do patriarca Enoque na tradição judaica, pois não somente Enoque (como Hermes Trismegisto) subiu ao céu e recuperou a integralidade da tradição primordial (origem da filosofia ou sabedoria perene), mas, além disso, quando morreu sem deixar o corpo tornou-se o Anjo da Face (Metatron), o mais elevado de todos os anjos, ao qual todos os mistérios divinos são revelados, o Grande Escriba de Deus e o anjo que comunica a Palavra divina, as mesmas funções de Thot na tradição egípcia.

E quanto à sua “atuação como transmissor da Sabedoria Divina perante os próprios deuses, essa sua função confi­gura a dimensão supracósmica de Thot-Hermes – o que a cabala chama de Mundo da Emanação (Olam ha-Atsilut), que é o mundo das essências e das formas arquetípicas. Nesse nível de realidade, Thot-Hermes é o Primeiro-ministro de Deus e a própria Sabe­doria de Deus, de modo que ele corresponde ao grande anjo Metatron, o Anjo da Face, da tradição esotérica da cabala judaica.

Alexandre Magno (O Grande), monarca do reinado da Macedônia, situado no norte da Grécia, conquistou em 332 a. C. o Egito, até então sob o domínio persa, e foi acolhido pelos egípcios como um libertador. Como não pretendeu anular a cultura egípcia, mas sim trazer a língua e a cultura grega e dialogar com ela, nesse ambiente de diálogo cultural muitas tradições e mitos das duas culturas foram fundidos.

Portanto, quando, “a partir do século IV a. C., houve a grande confluência da tradição egípcia e da grega com o projeto de Alexandre Magno de levar e difundir a cultura grega às regiões que ele conquistava − projeto que seus sucessores levaram a diante −, era natural que uma nova literatura se desenvolvesse em grego trazendo a autoria notável do deus Thot, uma vez que ele era considerado a divindade da sabedoria, o escriba dos deuses e o autor por excelência dos livros religiosos.

Assim como a partir do século XII e XIII as academias rabínicas da Provença e de Toledo autorizaram que a tradição oral esotérica do judaísmo fosse colocada por escrito no Sêfer ha-Bahir e no Sêfer ha-Zohar (pois perceberam que havia o risco de elas se perderem), e assim como cinco pajés guaranis do Paraguai permitiram que o Ayvu Rapyta: Os Fundamentos do Ser (textos míticos dos Mbyá-Guarani) fosse colocado por escrito por um antropólogo paraguaio (León Cadogan) na década de 1950 e publicado poucos anos depois no Brasil (pois também perceberam que havia o risco de ele se perder) e que foram reeditados e ampliados recentemente na obra O Trovão e o Vento, podemos supor ‒ por todas as evidências apontadas no parágrafos anteriores ‒ que pelo mesmo motivo que posteriormente os rabinos e, mais recentemente, os pajés ‒ os sacerdotes egípcios autorizaram que uma parte da magnífica tradição de sabedoria egípcia fosse colocada por escrito na língua grega, mesmo sabendo que muitos sentidos se perderiam com essa tradução. Consideraram que era melhor perder uma parte dos sentidos do que correr o risco de toda a tradição egípcia se perder.

Foi surgindo então no Egito, desde o século II a. C. uma série de tratados atribuídos a Hermes escritos em grego e que abordavam as diversas ciências tradicionais como a astrologia, a medicina, a alquimia (entre os quais, provavelmente, a famosa Tábua de Esmeralda), entre outras. Alguns séculos mais tarde (por volta dos séculos I e II d. C.) outra série de pequenos tratados escritos em grego e atribuídos a Hermes Trismegisto passaram a circular no Egito, como que complementando a série de tratados que circularam anteriormente, trazendo então um conteúdo de natureza mais teosófica e filosófica, oferecendo então os fundamentos para aqueles tratados anteriores que abordaram as ciências particulares. Esta segunda série de tratados foram reunidos no que passou a ser chamado de CORPUS HERMETICUM, obra clássica recém-publicada pela Polar Editora.

Este conjunto de textos escritos em grego são a origem da tradição hermética ou hermetismo, que penetrou a Europa primeiro por meio de alguns pais da Igreja (Clemente de Alexandria, Lactâncio, Cirilo de Alexandria, Eusêbio de Cesareia) e por meio das Corporações de Ofício (especialmente aquelas dos construtores), depois pelas Ordens de Cavalaria, pelas Fraternidades Espargírico-Alquímicas e por alguns importantes teólogos cristãos (Bernardo Silvestre, João de Salisbury, Alain de Lille, Alberto Magno, Teodorico de Freiburg) e, a partir do Renascimento Italiano, difundiu-se em muitas organizações (Rosa-Cruzes, Pietistas) e nas obras de muitos autores (Marsílio Ficino, Pico della Mirandola, Paracelso, Giordano Bruno, Heinrich Kunrath, Robert Fludd, Jacob Boëhme). Para a compreensão mais detalhada de como essa tradição hermética penetrou a Europa nos séculos seguintes e chegou até os nossos dias, veja a descrição e contextualização histórica na Introdução que escrevi para o Corpus Hermeticum (páginas 39 a 57).

 

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About the author

Graduado em Filosofia, Mestre em Educação e Doutor em Difusão do Conhecimento, é o editor-chefe e o diretor da Polar Editorial. Estudioso das principais Tradições Espirituais ocidentais há 35 anos e do esoterismo nelas contido.
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